29.6.07

(Pen)último post

Estou só à espera que o meu pai me telefone para explicar o sistema de tapar furos e pintar paredes. Que deve haver um sistema qualquer que desconheço, não pode ser tão fácil como chegar lá, tapar e pintar. Entretanto, acho que devo escrever umas linhas, qualquer coisa como uma despedida, uma última reflexão sobre a minha partida, a minha chegada, o algures lá no meio que é este mesmo momento, uma última listagem de tudo aquilo que vou trocar, deixar, que me vai fazer falta, ou não,
(a F., a C., o R., a K., o J., o S., pronto, está bem, o P., o Christopher Street Day, o bolo de queijo, o café-to-go, o metro a funcionar a noite toda ao fim-de-semana, a precisão, a deutsche Technologie, a palavra doch, os policiais islandeses a 4,90 €, as feiras ao domingo, o Brunch, os punks simpáticos, as festas ilegais, as noites imprevisíveis, os amigos espanhóis, o cheiro a aquecimento a carvão no Inverno, os prédios de Leste)
das pessoas sem nome que vou deixar de ver, de encontrar
(a senhora que sempre me cumprimenta com Mahlzeit quando nos encontra(áva)mos para fumar nas escadas do edifício, a senhora da padaria que já sabe como gosto do café, a vizinha com o cão castiço)
e de tudo aquilo que me incomoda aqui
(os dias cinzentos, pessoas que ganham 900 euros estarem no limiar da pobreza, a mania de pôr pimento em tudo, o Pfand, os alemães resmungões, o Pendelverkehr, os Cientologistas, gente alta nos concertos, só ter descoberto o Dunckerclub o ano passado, as notícias sobre a Paris Hilton na televisão do metro, os alemães que não sabem flirtar),
juntamente com tudo aquilo de que sinto saudades crónicas em Portugal e que me fez tomar esta decisão há três meses
(Lisboa, o sol, o mar, as amigas de infância, os outros amigos todos, as casinhas brancas do Alentejo, a minha avó, o bacalhau regado com muito alho e azeite, os pastéis de Belém, gente menos alta nos concertos, o Incógnito, a Super Bock, os homens que sabem flirtar, o café, os cafés com gente a falar alto, a prateleira de iogurtes do Intermarché, os meus pais a envelhecer, o “eles hadem” – “eles há-dem”?).
Mas.
Não tenho tido tempo para me sentir feliz ou triste. Não sinto nada além do pó das caixas nos meus olhos. Fica muito por dizer e ainda hei-de chorar. Mas por enquanto vou pôr a Frau K. na cave. Não é por maldade. Apenas por puro excesso de peso na bagagem.

6 Kommentare:

Anonymous Anonym meinte...

:)

1:13 AM  
Blogger JSA meinte...

Dieser Kommentar wurde vom Autor entfernt.

2:19 PM  
Anonymous Anonym meinte...

as coisas que valem sempre a pena nos dois sítios. mas voltarás a berlim, uma e outra e muitas vezes. as despedidas não são para sempre, mesmo que sejam permanentes.

lembro-me da velha expressão (creio que Schoppenauer): uma despedida tem sempre um sabor a morte, um reencontro um sabor a ressurreição. pode ser a "morte" da frau K., mas poderás sempre retirá-la da cave e ressuscitá-la, nem que seja de tempos a tempos e com regresso ao caixão calculado. a vida não deixa de ser mais doce por isso.

2:19 PM  
Anonymous Anonym meinte...

Curioso...este enorme sentimento de saudade que nos corre nas veias e que me deixa enternecida pela tua despedida. Se é que me é permitido dizer, Berlin não será o mesmo sem ti! E agora vamos enxugar as lágrimas que o calor já te aguarda. Cá te esperamos.
Boa viagem e até já...
;)

4:20 PM  
Blogger Frau K. meinte...

está calor?? mas claro que está. :)

5:27 PM  
Anonymous Anonym meinte...

"gente menos alta nos concertos" - não te enganes! ;)

auf wiedersehen frau k.,
bem-vindo de volta dona m.


http://www.youtube.com/watch?v=QShSmpI0r9k

11:20 AM  

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